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  1. Onde estão os filhos dos pioneiros?

    sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

    Maria Cinira dos Santos Netto
    Patrono: Euclides da Cunha

    Lembro-me dela ainda donzela, lutando para se tornar uma bela princesa. Ruas planas e arborizadas, intenso tráfego de bicicletas.
    Acolhia os caminheiros que chegavam de todos os estados, de todos os países, principalmente do Líbano, com fraternidade. Chegavam de mansinho, assentavam pouso e se punham a trabalhar. Havia na pequena cidade saberes culturais diferentes de mundos distantes.
    Sonhavam em torná-la grande e próspera.
    Nascia um sentimento coletivo de luta em busca do desenvolvimento. As ações governamentais eram ousadas e capazes de criar um pacto com a sociedade. Se o governo não caminhava, os cidadãos locais punham-se à frente dos empreendimentos e com confiança buscavam novos interesses; recíprocos entre aqueles que formavam nossa sociedade e os governantes.
    Desejavam a prosperidade, com ela viria o sustento de suas famílias, a escolaridade para seus filhos; trabalho pioneiro recheado de sonhos de crescimento.
    Era preciso avançar, romper a rotina, ampliar as oportunidades geradoras de renda, abrir caminhos para realizar grandes tarefas. Essa luta era um caso de amor com a vida; sonhos e ideais que nasciam.
    A grandeza do Rio Doce e a pujança de suas matas, a riqueza da Ibituruna e as lavras de pedras e mica que formavam o ciclo mineral eram cantadas em prosas e versos, aqui e d’além mar.
    Beleza contagia sensibilidade por isso é a deusa dos poetas, e nessa época, tínhamos excelentes expressões literárias, que enalteciam a cidade que estava nascendo; literatos e governo uniam-se para construir as mais diversas áreas de manifestação do agir concreto do homem sobre a história.
    Guardando nossa segurança havia o tenente Pedro, que se tornaria uma lenda da cidade que nascia, terror dos bandoleiros que aqui chegavam junto com o desenvolvimento; resguardando o direito constitucional dos cidadãos, o juiz Joaquim Martins da Costa.
    Sua trajetória de vila de canoeiros e belchiores à cidade aconteceu como em um conto de fadas, o emaranhado de lutas que resplandecem como uma luz que vem de longe varando distancias e dimensões.
    Entretanto os que aqui viviam, não tiveram o cuidado de registrar e transmitir a sua história, os sonhos e o legado dos pioneiros. Não entendiam que aquelas águas que corriam não voltariam ao mesmo lugar; levavam com elas exemplos de honradez e dignidade que deixaram marcas de saudades nos que ficaram. Hoje poucos se lembram do que já fomos. Os filhos nativos refugiaram-se em outras terras em busca de seus ideais, esqueceram-se de onde vieram e do muito que poderiam fazer pela cidade que é o seu berço natal. Acreditamos que caberia a eles, dar continuidade a essa construção. Olvidaram sua terra natal. A Princesa do Vale deixou poucas marcas em suas vidas.
    Alguns foram e jamais voltaram, para saber se poderiam ser úteis aos que ficaram guardando o legado que receberam.
    A cidade vibrante do passado deixou de existir. Outros forasteiros vieram e não souberam conduzi-la!
    O desconhecimento de nossa trajetória, de nosso passado político e de nossos costumes deixou-nos à margem da história. Lembranças podem ser uma exigência do afeto, uma cobrança de ternura mas, é preciso mais que isso, é necessário responsabilidade histórica. Para um povo caminhar deve haver conhecimento e respeito pelo seu passado. Ninguém ama o que não conhece, aí está o problema de nossa estagnação!
    Política e costumes merecem uma profunda reflexão histórica; pouco comum mas necessária. Quem sabe depois dessa reflexão, os valadarenses ausentes, donos de inúmeras empresas, que muito têm ajudado no saneamento de favelas, ampliando parque industrial de outras plagas, voltem o seu olhar para sua cidade natal e faz renascer o desenvolvimento que conheceram quando eram crianças.

    avl.publicacao@ig.com.br

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