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  1. SUINDARA

    quarta-feira, 4 de janeiro de 2012



    Neste número, estamos levando aos leitores, análises literárias de dois grandes nomes de nossa literatura: Monteiro Lobato e Machado de Assis, elaboradas pelos confrades da Academia Valadarense de Letras.
    Tudo tem origem nos sonhos. Primeiro sonhamos, depois fazemos. Esta frase caracteriza a ideia progressista do escritor Monteiro Lobato, que pensava e sonhava um Brasil grande e independente economicamente da força das nações mais avançadas.
    Autor de grande senso critico, cansado de ver acontecer as queimadas no mundo rural, escreveu um texto intitulado “Velha Praga” publicado no jornal O Estado de São Paulo, que entendeu ter o texto valor relevante, provocando polêmica, o que o estimulou a escrever “URUPÊS” e a criar seu famoso personagem Jeca Tatu.
    Era um paulista de quatro costados, neto de um visconde, herdeiro de grandes extensões de terras que vendeu para dedicar-se à literatura e tornar-se empresário-editor, numa época em que os livros brasileiros eram editados em Paris ou Lisboa.
    Lobato, como pré-modernista, tinha duas características fundamentais: o regionalismo e a denúncia da realidade brasileira. Foi o escritor de nossos sonhos infantis, em que realidade e a fantasia estão lado a lado. Quem não sonhou com o Visconde de Sabugosa, a boneca Emília, Dr. Caramujo, a negra Anastácia, anjo de todos os que viviam no Sítio de D. Benta? Toda essa magia foi transportada de forma viva e alegre, para a capa da Revista Suindara, ilustrada com os personagens do Sitio do Pica-Pau Amarelo.
    Machado de Assis, o gênio da Literatura Brasileira, é um escritor que disseca, com profundidade, a alma humana e a vivência do homem em sociedade. Descreve com clareza a maldade, o preconceito e a desconfiança; focaliza aquilo que o homem tem de pior na relação com o outro: a mesquinhez, a falsidade, o interesse pessoal e a bajulação.
    Machado de Assis, o mulato pobre que transformou-se em cidadão do mundo, é hoje, o mais citado e o mais trabalhado autor brasileiro em dissertações de mestrado e teses de doutorado, não só no Brasil como em outros países.
    Esta edição servirá de pesquisa para os que se interessam por Literatura e ainda nos levará a refletir sobre o Natal.


    Crisolino Ferreira da Costa Filho
    Patrono: Jorge Amado


  2. Se não houver frutos
    Valeu a beleza das flores...
    Se não houver flores,
    Valeu a sombra das folhas...
    Se não houver folhas,
    Valeu a intenção da semente... (Henfil)


    Prezados confrades,
    Ao findar mais um ano de atividades, de repente, descobrimos que escrevemos mais uma página de nossa história pessoal.
    Em alguns momentos, o desânimo tomava conta do nosso corpo, desgastado por anos vividos. Entretanto o espírito vibrava a cada nova conquista.
    Não sabemos como conseguimos força e disposição, mas corajosamente atingimos nossos objetivos, os objetivos dessa casa.
    Nosso coração esteve carregado de esperança e de sonhos; vontade de que as coisas fossem melhores.
    Findamos o ano com o sentimento do dever cumprido e que, o que estava para fazer foi feito. Resta-nos neste momento, agradecer a todos que colaboraram conosco, principalmente àqueles que formaram comigo um grupo de trabalho incessante: correção de textos, decisões administrativas, buscas de recursos, e dizer-lhes da minha gratidão; sem vocês eu não teria caminhado. Pedimos desculpas por momentos de constrangimento que algumas vezes podemos ter causado, no cumprimento de nosso dever.
    Desejo a todos vocês, meus companheiros de jornada, um Natal cheio de luz e um Ano Novo repleto de realizações.
    Que em 2012, possamos sonhar juntos e realizar, guiados pela Luz do Espírito Santo, que hoje se faz presente em nossos corações.


    Feliz Natal. Um abraço.


    Cinira

  3. Maria Luiza Camargos Torres
    Patrono: Ruy Barbosa

    Ela andava apressadamente pelas ruas da cidade, tendo em mente as várias coisas ainda por fazer naquele dia. Agenda cheia, responsabilidades e horários. O calor ardia, dando uma sensação de umidade e desconforto. Ela pensou em parar na Praça Serra Lima para dar uma refrescada. Olhou para o relógio e constatou que não podia fazer isso. Seguiu e ficou esperando o sinal ficar verde para atravessar a rua. Olhou mecanicamente para os lados. Viu um homem vestidamente pobre carregando sacolas e atrás dele uma mulher com trajes do mesmo tipo conversando com uma criança de uns quatro anos. Aos seus olhos era uma família carente. A mãe estava grávida e também carregava sacolas, que pareciam pesadas. O pai andava descalço e a mãe usava um chinelo de borracha nitidamente remendado. O menor tinha em seus pés uma sandalinha que deixava seu calcanhar de fora.
    O modo como o menino olhava para a mulher chamou a atenção dela. Como eles também esperavam pelo sinal, ela começou a escutar o que diziam. Era mais ou menos assim:
    -Mãe, vamus ver o Natal?
    - Que Natal, menino?
    - Aquele das loja... Ele tem luz que brilha e pisca...
    - Isso não é o Natal, menino bobo.
    - Vamus, eu quero ver se tem um presente prá mim...
    - Natal é coisa prus rico, menino.
    - Por quê? (silêncio)
    - É tão bunito, vamus lá mãe...
    E a mulher silenciou novamente. Não olhou mais para a criança que ainda lhe pedia com o olhar. A moça sentiu um arrepio pelo corpo todo e teve medo de pensar no que a mulher pensava e sentia. Olhou de novo para o sinal e ele continuava vermelho. Os carros passavam rápidos. O pai não escutava a conversa e falava com outra pessoa ao seu lado. Ela, a moça que observava a cena, teve a impressão que o sinal estava desregulado, pois o tempo estava grande demais. Tentou olhar para o outro lado, mas não conseguiu. Seu corpo se inclinou de novo para a família ao seu lado. E o diálogo prosseguiu:
    - Mãe, vamus lá, só um tiquinho...
    -Menino, dexa de ser injuado, isso num é prá nós...
    Nesse instante, começaram a atravessar a rua e a moça, como por instinto, os seguiu. O olhar da criança continuava a indagar a mãe, que em silêncio permanecia. Então, o menino olhou para o pai e deu uma corrida, pois ele andava muito mais rápido que os dois. Chegou até ele e lhe deu a mão. Olhou para cima de novo e confirmou que seu pai tinha um barrete de Papai Noel na cabeça. Sem uma palavra, o menino, sem tirar os olhos do pedaço de pano vermelho, começou a saltitar.
    A moça parou, e se perguntou: “De onde viera aquele barrete?” Soube logo que não precisava mais da resposta. E continuou se deliciando com os pulinhos que o garoto, com um sorriso lindo no rosto, ainda fitava o pai.

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