Rss Feed
  1. COISAS DO PAPAI NOEL

    quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

    Maria Luiza Camargos Torres
    Patrono: Ruy Barbosa

    Ela andava apressadamente pelas ruas da cidade, tendo em mente as várias coisas ainda por fazer naquele dia. Agenda cheia, responsabilidades e horários. O calor ardia, dando uma sensação de umidade e desconforto. Ela pensou em parar na Praça Serra Lima para dar uma refrescada. Olhou para o relógio e constatou que não podia fazer isso. Seguiu e ficou esperando o sinal ficar verde para atravessar a rua. Olhou mecanicamente para os lados. Viu um homem vestidamente pobre carregando sacolas e atrás dele uma mulher com trajes do mesmo tipo conversando com uma criança de uns quatro anos. Aos seus olhos era uma família carente. A mãe estava grávida e também carregava sacolas, que pareciam pesadas. O pai andava descalço e a mãe usava um chinelo de borracha nitidamente remendado. O menor tinha em seus pés uma sandalinha que deixava seu calcanhar de fora.
    O modo como o menino olhava para a mulher chamou a atenção dela. Como eles também esperavam pelo sinal, ela começou a escutar o que diziam. Era mais ou menos assim:
    -Mãe, vamus ver o Natal?
    - Que Natal, menino?
    - Aquele das loja... Ele tem luz que brilha e pisca...
    - Isso não é o Natal, menino bobo.
    - Vamus, eu quero ver se tem um presente prá mim...
    - Natal é coisa prus rico, menino.
    - Por quê? (silêncio)
    - É tão bunito, vamus lá mãe...
    E a mulher silenciou novamente. Não olhou mais para a criança que ainda lhe pedia com o olhar. A moça sentiu um arrepio pelo corpo todo e teve medo de pensar no que a mulher pensava e sentia. Olhou de novo para o sinal e ele continuava vermelho. Os carros passavam rápidos. O pai não escutava a conversa e falava com outra pessoa ao seu lado. Ela, a moça que observava a cena, teve a impressão que o sinal estava desregulado, pois o tempo estava grande demais. Tentou olhar para o outro lado, mas não conseguiu. Seu corpo se inclinou de novo para a família ao seu lado. E o diálogo prosseguiu:
    - Mãe, vamus lá, só um tiquinho...
    -Menino, dexa de ser injuado, isso num é prá nós...
    Nesse instante, começaram a atravessar a rua e a moça, como por instinto, os seguiu. O olhar da criança continuava a indagar a mãe, que em silêncio permanecia. Então, o menino olhou para o pai e deu uma corrida, pois ele andava muito mais rápido que os dois. Chegou até ele e lhe deu a mão. Olhou para cima de novo e confirmou que seu pai tinha um barrete de Papai Noel na cabeça. Sem uma palavra, o menino, sem tirar os olhos do pedaço de pano vermelho, começou a saltitar.
    A moça parou, e se perguntou: “De onde viera aquele barrete?” Soube logo que não precisava mais da resposta. E continuou se deliciando com os pulinhos que o garoto, com um sorriso lindo no rosto, ainda fitava o pai.

  2. 0 comentários:

    Postar um comentário

Followers