Rss Feed
  1. A árvore da vida

    sexta-feira, 19 de outubro de 2012



    Maria Luiza Camargos Torres
    Patrono: Ruy Barbosa

    Estou assentada na varanda da minha casa e olho para você. Admiro sua majestade, embora jovem ainda. Eu a vejo linda, com esse verde que chega a brilhar. O rosa suave matizado de branco de suas flores parece uma pintura, agradável aos olhos e ao espírito. Como há pessoas que não gostam de árvores? Dão flores, frutos, folhas, sombras, renovam e refrescam o ar e embelezam a rua, o campo, o jardim, seja lá onde estiverem.
    Antes de te plantar, transportei-te no colo e te cantei um verso de amor. Era bem vinda na minha calçada e cuidaria muito para cresceres forte e bonita. Com carinho, coloquei-te numa cova úmida e estercada, regando-te na hora do plantio e ao longo desses anos. Acompanhei teus novos brotos com alegria e entusiasmo, celebrando a vida que insistia em continuar. Cerquei com tela teus primeiros galhos, tênues e incertos para que pudessem ser exuberantes. Arranquei as ervas que queriam competir contigo e não deixei que tirassem teu vigor. Eu te mirei de perto e de longe, com admiração. Vencemos, pensava eu. A vida nos deu a chance de sermos coadjuvantes nesse baile de cores. Agora, embora com uns três metros de altura, teus galhos são delicados e finos. Não comportam peso. Nasceram para compor uma cena para ser admirada, para abrigar pequenas aves, para ajudar o vento a soprar e refrescar nossos olhos e almas.
    Apesar disso, existem aqueles que não te veem assim. Arrancam tuas folhas, flores e quebram teus galhos. Passam e simplesmente tiram pedaços teus para em seguida jogarem adiante, no chão da mesma calçada. Que prazer estranho sentem essas mãos daninhas em desperdiçar tamanha vida? Que força estranha é essa que os impulsiona à degradação do seu próprio habitat? Ferem teu tronco e deixam a escorrer tua seiva verde e leitosa, como lágrimas silenciosas. Machucam-te lancetando em seu coração espadas finas como se fosse uma brincadeira.
    Imagino a dor que sentes com essas atrocidades mundanas. A cada agressão sofrida, uma tristeza na hora da constatação. Imagino o que sentiu nos últimos dias. De todas as vezes, essa foi a pior. Teu tronco foi tombado, puxado para fora da calçada, como se quisessem mesmo te arrancar. Quando te vi com galhas quebradas, quase chegando ao chão, minhas lágrimas disseram por mim o quanto meu coração doía. Quem poderia ter feito tamanha maldade? Pensei. Perguntas variadas vieram sem respostas e continuam assim até hoje. Quem? Por quê? Para quê? Tua dor se estampava nos rasgos da pele começando a ressecar com o sol.
    Só me restava mais uma vez, cuidar intensivamente de ti e te dar meu carinho para que não morresses. Foi então que cavei em volta do teu tronco, adubei, enchi de terra novamente para compensar o deslocamento que foi feito na hora do golpe. Amarrei uma corda em teu longo caule e te levei até a pilastra de minha varanda, para que pudesse te dar suporte nessa hora de incertezas. Parece que os curativos estão dando certo. Ao te admirar agora, vejo que sorris para mim, celebrando mais uma vez a força do amor e da vida.

  2. 0 comentários:

    Postar um comentário

Followers