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  1. A INJUSTIÇA SOCIAL, PELA ÒTICA DE ALUÍSIO DE AZEVEDO

    quinta-feira, 18 de agosto de 2011

    Publicado no quadro Política/Opinião do Jornal Diário do Rio Doce em 17 de agosto de 2011.


    Niza Diniz - Patrono: Aluísio de Azevedo

    Quando o Brasil vivia a efervescência da Campanha Abolicionista, em 1890, o notável escritor, Aluísio de Azevedo lança um dos maiores clássicos da literatura brasileira: o romance naturalista, O Cortiço.
    O autor trazia da infância o trauma de ser filho de pais amancebados, motivo pelo qual sofria rejeição na escola; cresceu ouvindo comentários maliciosos sobre seus pais, pela tradicional sociedade maranhense.
    Tornou-se crítico impiedoso da sociedade brasileira e de suas s instituições como o clero, a burguesia e a monarquia; aborda em suas obras temas em defesa das classes humildes e marginalizadas, usando de vigorosa análise social, baseando-se na observação fiel da realidade.
    Na elaboração deste romance, Aluisio visitou várias habitações coletivas, sentiu-lhes o cheiro, interrogou lavadeiras, viu-lhes a promiscuidade, a sujeira, a podridão. Influenciado por Taine, o autor defende que o destino do indivíduo é determinado pelo ambiente, momento e pela raça. Também a influência de Darwin se enfatiza neste romance, segundo a qual o homem sendo um animal, deixa-se levar pelos instintos naturais, não podendo ser reprimido em suas manifestações como o erotismo, a violência, o ódio. Reduzindo as criaturas a animais movidos pela fome e pelo instinto, usa expressões como: “Ela era a cobra traiçoeira” ou, “sacudia as ancas”, se referindo à mulher.
    A obra, de recorte sociológico, conta a história envolvente e sombria de uma população de proletariados da sociedade carioca, do século XIX, o dia a dia de um cortiço.
    Ampla galeria de tipos humanos desfila pelas páginas do romance: lavadeiras, mascates, prostitutas e operários. ”Como larvas no esterco... é assim que vivem os personagens do cortiço, um quadro de miséria a que eram submetidos o negro e o mulato explorados pelo ambicioso português João Romão, que chegou ao Brasil com a intenção de ficar rico, como procedia a maioria dos europeus daquela época. O romance conta na realidade o nascimento, a vida e a morte de um cortiço. Ele é o grande personagem: “Às cinco horas o cortiço acordava, abrindo não os olhos, mas a infinidade de portas e janelas”. Eram vários quartos de aluguel, sendo que a latrina ficava do lado de fora, bem como a bica de lavar rosto.
    O português João Romão compra uma vendinha e se amiga com uma escrava foragida, que trabalha feito burro de carga para agradá-lo. João Romão falsifica uma Carta de Alforria e com as economias do trabalho da escrava puxa umas casinhas nos fundos da venda e assim, nasce O Cortiço, seu filão de ouro. Seu objetivo é alcançado: fica rico, explorando os brasileiros.
    Depois da riqueza, almeja a ascensão social; pretende se casar com a filha de um aristrocata. Agora enfrenta um problema: como se livrar da negra e fétida Bertoleza? Traiçoeiramente a denuncia a seus legítimos donos, que buscam capturá-la, mas não conseguem. A negra aterrada com a presença dos guardas, usa a faca que escamava os peixes e rasga o próprio ventre.
    A obra de Aluisio Azevedo, está a serviço do argumento de que a miséria torna o homem um verdadeiro animal. E faz refletir que no Brasil atual, ainda existem questões pertinentes com a mesma desigualdade social denunciada pelo autor.

  2. Ruth Soares - Patrono: Tomás Antonio Gonzaga

    Não foi um movimento de elite endividada, que tentava se livrar do erário português. Foi um movimento de convicções políticas, quando os colonizados fizeram oscilar o equilíbrio do colonizador. O povo de Minas Gerais, sempre insubmisso, mantinha os governantes da capitania em alerta. A insatisfação corroia a paz desta região aurífera, onde a maioria da população acalentava o sonho de liberdade.
    Foi aí, nesse pedaço de chão, rico em ouro e diamantes que nasceu o movimento libertário denominado Inconfidência Mineira. A metrópole tudo fez para anular o sonho dos mineiros; criou a capitania de São Paulo e Minas do Ouro, retirando a jurisdição do Rio de Janeiro com a intenção de garantir a arrecadação dos impostos aos mineiros. Devido a essa cobrança exagerada, muitas revoltas aconteceram nas montanhas de Minas Gerais: em 1718 aconteceu a Revolta de Pitangui contra a cobrança em atraso das oitavas de ouro, Minas Gerais deveria repassar à coroa portuguesa 25 arrobas de ouro, o que equivaleria a 375 kg anuais. Em 1720, aconteceu em Vila Rica, uma rebelião chefiada por Felipe dos Santos (um reinol) contra o estabelecimento das Casas de Fundição, além do excesso de impostos cobrados sobre alimentos e instrumentos necessários para a mineração. Essa revolta de Felipe dos Santos foi tão séria, que levou a coroa a repensar a divisão do território brasileiro, desmembrando a capitania das Minas Gerais da de São Paulo, criando a capitania Real de Minas Gerais. Em 1736 surgem novas rebeliões como as Sedições de São Francisco, contra o sistema de captação de impostos. Em 1761, aconteceu a “Inconfidência de Curvelo”, protesto contra a expulsão dos jesuítas, a mando do Marquês de Pombal e do rei D. José I.
    Para a historiadora Maria Efigênia Lage Rezende a Inconfidência Mineira já estava em curso desde 1786, elaborada na mente e no coração de estudantes brasileiros, que cursavam as Universidades européias: José Joaquim da Maia estudante de medicina na França, escreveu a Thomas Jefferson, embaixador dos E.U.A. no país, solicitando apoio à causa da independência brasileira. Além dele, outro estudante brasileiro que também lutou pelos ideais de uma nação livre, foi José Álvares Maciel, filho do capitão-mor de Vila Rica que incutiu em Tiradentes e seus companheiros os ideais liberais. Em 1788 as minas de ouro estavam exauridas. Em Portugal, morre o rei D. José I e sobe ao trono D. Maria I, que substituiu o ministro Marquês de Pombal por D. Martinho de Melo e Castro, que considerava o não pagamento das 100 arrobas de ouro como sonegação de impostos por parte dos mineiros. Mais severo que Pombal no cumprimento das leis, Dom Martinho mandou fechar as fábricas de manufaturas em território nacional, para que o comércio desses produtos beneficiasse os comerciantes portugueses que viviam em Portugal.
    Melo e Castro recomendou ao Visconde de Barbacena que completasse 100 arrobas de ouro para o pagamento dos impostos; caso não se completasse, proceder-se ia à derrama. Alguns impostos cobrados naquele período desapareceram de nosso código legal, mas podemos encontrá-los em países europeus sede de monarquias. Contrato de entradas; direito de passagem; contrato de dízimo; imposto sobre produção em geral; subsídios voluntários (10 anos para reconstruir Lisboa) subsídio literário; terças partes dos ofícios (arrecadados sobre vendas de cargos públicos); imposto sobre carne verde; sobre cada litro de vinho; taxas de correios; contribuição do Tejuco. Indignado com essa carga abusiva de impostos, Tomás Antônio Gonzaga,manifestou sua revolta através das cartas chilenas, denunciando o quadro de penúria do povo, a opressão fiscal, as arbitrariedades, a corrupção e as promoções injustas existentes na capitania.
    Foi nesse ambiente corrupto e opressivo que nasceu e cresceu o sonho de liberdade dos Inconfidentes. O ouro fez nascer povoações como o Arraial Novo, Arraial Velho do Rio das Mortes, Vilas de São José Del Rei, atual Tiradentes, e São João Del Rei. Nessa região, à direita do Rio das Mortes, ficava o sítio de Pombal onde nasceu Joaquim José da Silva Xavier. Era o 4º filho de Domingos da Silva Santos e Antonia Encarnação Xavier de uma prole de sete filhos; seu padrinho foi Sebastião Ferreira Leitão. Dois de seus irmãos se tornaram padres, um seguiu a carreira militar. Joaquim José possuía cultura maior que a média da população da época, redigia bem e tinha boa caligrafia. Gostava de estudar e com a ajuda de seu padrinho, tornou-se hábil dentista prático; conhecia a flora e a fauna brasileira e com curandeiros aprendeu medicina alternativa. Tinha espírito aventureiro, foi tropeiro por nove anos, desbravando os sertões de Minas Gerais e Bahia, viu a miséria do povo, visualizou as riquezas brasileiras que eram levadas para fora do Brasil. Decidiu abraçar a carreira militar incorporando-se à companhia de Dragões de Vila Rica. Foi confirmado no posto de Alferes, vinculado à 6ª Cia sob o comando do capitão Baltazar João Mayrink, pai de Maria Dorotéia Joaquina de Seixas imortalizada por Tomás Antônio Gonzaga, como Marília de Dirceu.
    Tiradentes era branco, simpático e agradável. Não era figura banal nem desagradável. Como não tivemos acesso a nenhuma foto ou pintura que o retratasse, sua imagem no século XIX foi idealizada à semelhança da imagem de Jesus Cristo e assim difundida pela República. O herói da Inconfidência Mineira não se casou, uniu-se a uma jovem com idade provável entre 16 e 17 anos: Antonia Maria do Espírito Santo. Com ela teve uma filha a quem batizaram com o nome de Joaquina; foi seu padrinho Domingos Abreu Vieira, também um inconfidente. Tinha uma situação financeira equilibrada, seu salário era de 142 $350 réis e, além disso, ainda tinha vencimentos auferidos no exercício da odontologia prática, e da medicina alternativa. Recebeu também, uma pequena herança. Quando foi preso, todos os seus bens foram confiscados pela coroa portuguesa.
    Além do conhecimento de medicina e odontologia possuía conhecimentos de engenharia. No Rio de Janeiro fez um projeto para captação de águas do córrego do Catete e do rio Andaraí para edificação de moinhos e abastecimentos de água na cidade. Este projeto ficou arquivado na Câmara do Rio de Janeiro e sequer foi analisado pelas autoridades da época; não mereceu nenhum despacho, até a vinda do Príncipe Dom João VI, que se encarregou de mandar executá-lo. Nesse contexto, vale lembrar as bravas figuras do padre Rolim e padre Toledo, inconfidentes que comandaram pelo menos 200 homens armados durante a revolução.
    Tiradentes morreu por sonhar com uma nação livre, um país grandioso, soberano, administrado por seu povo, dono de suas riquezas. Em razão desse sonho foi perseguido, preso e condenado. Seu corpo foi esquartejado e exibido pelas montanhas mineiras onde os pedaços foram expostos nos locais em que ele pregou a liberdade.
    Hoje, 200 anos depois, os sonhos de Tiradentes continuam a ser sonhos.

    Dados Bibliográficos:
    GONÇALVES, Adelton. Gonzaga, Um poeta do Iluminismo – Nova Fronteira.
    SOUZA, Miguel Augusto Gonçalves. Revista da AML – 1981 Vol: XXVIII e XXIX.
    RESENDE, Maria Efigênia Lage, Inconfidência Mineira – 3ª edição. 1986 – Global Editora – História Popular. São Paulo.
    SANT´ANNA, Sonia. Inconfidências Mineiras – Uma História Privada da Inconfidência. Editora Jorge Zahar
    LOPES, Paulo Guilherme M. O processo de Tiradentes. Conjur Editorial – Ricardo Tosto – Apresentação Aécio Neves. Pág. 5.


  3. Maria Stela de O. Gomes - Patrono: Guimarães Rosa

    Próximo ao Arraial de Santa Rita do Rio Abaixo, em uma fazenda no distrito de Pombal, nasceu Tiradentes em 1746, mas precisamente aos doze de novembro. Seus pais eram proprietários rurais e ele era o quarto dos sete filhos do casal. Não teve o afeto e a segurança dos pais que morreram, deixando nosso herói e seus irmãos aos cuidados de padrinhos e conhecidos. Sua sorte marcadamente dramática o penalizou com a pobreza, pois os bens deixados pelos genitores foram arrematados para sanar dívidas familiares.
    Cresceu solitário, embora idealista e sonhador. Ao se tornar órfão ficou sob a tutela de um padrinho que era cirurgião. Dentre as inúmeras profissões que exerceu foi a de dentista que lhe valeu o apelido de Tiradentes. Ainda jovem alistou-se na carreira militar como alferes, e por isso, e devido ao seu sacrifício, em prol da liberdade, tornou-se o patrono dos militares. Devido ao seu gênio e ao seu envolvimento com a Inconfidência Mineira, a vida de Tiradentes ganhou sentido ao lutar contra o poder constituído, indo de encontro aos opressores do Brasil que cobravam injustamente impostos para a metrópole, em prejuízo dos brasileiros cada vez mais esquecidos e mais miseráveis, nos rincões deste país.
    Várias lendas cercam o mito deste homem, envolvendo-o numa área de mistério em que casos e mais casos tentam retirar alguns resquícios de sua vida pessoal para o estudo na atualidade. Segundo narrativas populares nosso herói destacava-se pelos traços fortes, grande estatura e voz vibrante e carismática. Audacioso, impulsivo, expressava seu sentimento de revolta sem reservas, sendo identificado como um dos mais “perigosos”, segundo os autos da devassa, fato que o teria levado à morte por enforcamento a mando de D. Maria Primeira.
    Sua obstinação e sua coragem tornaram-se conhecidas por meio da lenda do Embuçado. De acordo com seus narradores, os inconfidentes e Tiradentes foram avisados, certa noite, da traição de Joaquim Silvério dos Reis, por um sujeito encapuzado, numa veste preta que teria avisado às futuras vítimas o que lhes aguardava. Tiradentes foi um dos que rechaçou a ideia de fuga.
    Jamais se casara. Contudo, sua vida pessoal estaria ligada a alguns amores, não expostos, publicamente. Teve, com Antonia Maria do Espírito Santo, uma filha que recebeu na pia batismal, o nome de Joaquina da Silva Xavier. Os dois morreram pobres, devido à ação da Coroa Portuguesa.
    Ainda se pode citar, mesmo sem documentação comprobatória, um casal de filhos que ele tivera com Eugênia Joaquina da Silva.
    A filha morreu prematuramente, e o filho, João de Almeida Beltrão sobreviveu e para fugir à maldição lançada aos descendentes de Tiradentes, foi adotado por um comerciante. Deixou grande geração, tendo oito filhos.
    Em arquivo público encontra-se o processo de Antônia Maria que afirma ser filha legítima de José Joaquim e sua única descendente direta, fato comprovado através de documentos. Em tal processo ela solicita a posse de um escravo que teria sido dado a ela por Tiradentes, embora este tenha sido confiscado após a morte do Alferes.
    Outros fatos que ligam Tiradentes aos seus descendentes é a história de um de seus netos que trocou o seu sobrenome Silva Xavier para Zica, a fim de escapar da perseguição da Coroa.
    Na atualidade, alguns de seus descendentes exigem pensão especial do INSS, como sua tetra neta, Lucia de Oliveira Menezes, membro da quinta geração que recebe uma pensão mensal de R$ 200,00 (duzentos reais). O aparecimento dos tetra netos de Tiradentes suscitou grande curiosidade por parte da Imprensa e da população, de maneira geral. Pode-se afirmar que um homem não morre quando tem um ideal, ficando seu exemplo na história e no tempo.
    Para ilustrara sua história,o fragmento do livro, Romanceiro da Inconfidência,de Cecília Meireles sobre o grande herói da Inconfidência Mineira:


    Do caminho da Forca

    “Os militares, o clero,
    Os meirinhos, os fidalgos
    Que o conheciam das ruas,
    Das igrejas e do teatro,
    Das lojas dos mercadores
    E até da sala do Paço;
    E as donas mais as donzelas
    Que nunca o tinham mirado,
    Os meninos e os ciganos,
    As mulatas e os escravos,
    Os cirurgiões e algebristas,
    Leprosos e encarangados,
    E aqueles que foram doentes
    E que ele havia curado
    -agora estão vendo ao longe,
    De longe escutando o passo
    Do Alferes que vai à forca,
    Levando ao peito o baraço,
    Levando ao pensamento
    Caras, palavras e fatos:
    As promessas, as mentiras,
    Línguas vis, amigos falsos
    Coronéis, contrabandistas,
    Ermitões e potentados,
    Estalagens, vozes, sombras,
    Adeuses, rios, cavalos...”

  4. Antônia Izanira Lopes de Carvalho - Patrono: José Martiniano de Alencar


    Ao surgirem como nova geração, os escritores da Década de Trinta foram considerados como o grupo de ouro da Literatura Brasileira. Todos, sem exceção, revitalizaram a cultura, dando ao leitor a opção de conhecer a denúncia sobre o estado de coisas existentes no País, no governo ditatorial de Getúlio Vargas. Suas obras constituem-se ainda como retratos de um Brasil esquecido, com o Nordeste e sua miséria pela constância da seca. Rachel de Queiroz pertence ao grupo desses privilegiados mensageiros. A fim de se entender melhor sua obra, três aspectos devem ser considerados, por serem fundamentais para o estudioso dessa autora cearense. A tese a ser estabelecida é a de que Rachel de Queiroz registra a vida, a mulher e sua coragem, além de documentar a terra e suas raízes.
    A primeira obra publicada data de 1930. É “O Quinze”, a mais lida e comentada de sua vasta bibliografia. Obra telúrica, aborda a terra das caatingas. Mostra o desafio do homem que luta contra os efeitos da estiagem nordestina. Ai é registrada a pobreza de Chico Bento e seus filhos fugindo do sol, bem como Vicente, socialmente colocado acima da fome, figura quase mítica, que desafia a adversidade, enfrentando a natureza castigada pelo sol. O telúrico, o amor às raízes do Nordeste são tão fortes que há simbiose perfeita entre homens, vegetação e os animais. A humanização dos inanimados é tangível: “o próprio leito das lagoas vidrara-se em torrões e lama ressequida, cortada, aqui e além por alguma pacavira defunta que retorcia as folhas empapeladas.” (p.20)
    Também os animais se humanizam: “E apontava para uma vaca pintada de preto e branca que, magra e quieta à beira da estrada, parecia esperar a família fugitiva para uma derradeira despedida. (...) Rendeira fitou em todos os seus grandes olhos dolorosos, donde escorria uma lista clara sobre o focinho escuro, como um caminho de lágrimas.” O crudelismo se expressa na animalização de homens que disputam carne podre com os urubus: “Realmente, a vaca já fedia, por causa da doença. (...) era uma festa para os urubus vê-la lá de cima, lá da frieza mesquinha das nuvens...’’ (p. 36)
    O segundo momento do livro é a luta urbana com Conceição, a professora que nasceu para ser mãe e que adota Duquinha como se dela fosse. Prima e amada de Vicente dele se separa pela racionalidade encontrada nos livros franceses. “O Quinze” refere-se à seca de 1915 que historicamente foi registrada como uma das maiores do Ceará: milhares de retirantes refugiavam-se num campo em Fortaleza, fugindo da fome e da seca. Multidões cansadas assemelhavam-se a ocupantes de um campo de concentração. Havia corrupção e só se salvava quem tivesse um dedo político indicador: “... a perversidade de uma seca entregara aos azares da estrada e à promiscuidade miserável dum abarracamento de flagelados. ”( p. 95)
    A segunda grande marca da obra de Rachel de Queiroz é a mulher. Ela se encontra em todos os seus livros. São de todos os matizes, mas se caracterizam pela fortaleza; são guerreiras, voluntariosas, desafiando a região e a época machista em que viviam. Numa sociedade em que só havia três caminhos para a mulher: casamento, convento ou prostituição, elas foram capazes de feitos que desafiassem o homem pela coragem e inteligência. Seus nomes são simbólicos, guardando sua personalidade. Pode-se afirmar que cada uma traz uma parcela da escritora. São o alter ego de Rachel que ousou em seu tempo ser comunista, enfrentar a prisão. Separou-se numa época em que moças de família não se separavam. Ela o fez e ainda foi morar com o grande amor de sua vida: para escândalo da tradicional sociedade cearense. Quem sabe não é a memória ancestral que ditou suas criações? Afinal, uma de suas tetravós foi a revolucionária, Bárbara de Alencar, que lutou em prol da República tendo sido presa e torturada, ao defender seus ideais de liberdade e igualdade.
    “A mulher forte de Rachel encontra-se na militante comunista Noemi em “Caminho de Pedras” O seu vago amor por todos os homens, os sujos e limpos, brancos e pretos, a velhinha agarrada no cacete, o menino triste que não podia entrar no cinema, coisas que sempre escondera, como sentimentalismo pueril... Seus ansiosos desejos de adolescente, a que o casamento decepcionara, cortara as asas” (p.46) É a Doralina de “Dora, Doralina”, metaforicamente sublinhada como a mulher que teve a sina da dor ao se ver traída pela mãe e que de menina tímida e insegura foi capaz de varar meio Brasil pelo amor do seu Capitão. Também a encontramos no livro de “As três Marias,” principalmente em Maria Augusta que desafiou a sociedade ao perder a virgindade e se vê como mãe solteira. Para finalizar sua galeria feminina, há a personagem Maria Moura: a que sabia amar e matar. Moura lembra, etimologicamente, a variável do significado provindo da Península Ibérica: Moura de Mourão, aquele que sustenta, que trabalha, que assegura fortaleza às partes mais fracas. E assim é Maria Moura, lutando o amando em seu “cubico”. A mulher de Rachel é a Santa em João Miguel, contraditória diante da desgraça; é a Filó que sustenta com seu prato de comida o prisioneiro miserável; é Angélica capaz de sair de seu mundo aristocrático pelo amor ao pai.
    A temática assim visualizada nessas três vertentes leva-nos a encontrar outro veio que merece estudo: o estilo de Rachel. Como todo realista, ela ama a concisão e não abandona seus vocábulos regionalistas. A linguagem é afetiva, comprovando-se pela quantidade de diminutivos. A preferência pelo gerúndio é uma herança do francês, idioma que dominava perfeitamente. Além disso, os diálogos são vivos, a adjetivação é precisa e há trechos expressionistas, ricos em cores e traços. Seu romance apresenta-se narrado em terceira ou primeira pessoa, este último muito observado na obra de Maria Moura, rico em digressões e ações internas.
    Rachel de Queiroz, a cearense dividida entre o sítio “Não me deixes” e Niterói, cidade que viu crescer e que lhe deu inspiração para escrever “Galo de Ouro”, morreu dormindo em sua rede, e se encantou, na viagem derradeira em busca das raízes de seu mundo imaginário, onde o amor, a liberdade e a dignidade fizeram nascer uma nova mulher. O Ceará dos Verdes Mares ganhou uma nova jandaia que canta na eternidade de seus livros.

    Dados bibliográficos:

    QUEIROZ, Rachel de. O Quinze. 62 ed. Rio de janeiro: Siciliano, 1993.
    QUEIROZ, Rachel de. Caminhos de Pedra. 55 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1937.
    QUEIROZ, Rachel de. As Três Marias. Rio de Janeiro: José Olympio, 1939.
    QUEIROZ, Rachel de. Memorial de Maria Moura. 2 ed. São Paulo: Rio de Janeiro: Siciliano, 1992.
    QUEIROZ, Rachel de. Dora, Doralina. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975.
    QUEIROZ, Rachel de. João Miguel. 5 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969.
    CHEVALIER, Jean e Alain Gheerbrant. Dicionário de Símbolos. 3 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1990.


  5. Niza Diniz – Patrono: Aluisio de Azevedo

    “Pois quem tem ouro, tem tudo, o ouro compra o que o ouro valer(...) Eu tinha que ter o ouro para ter poder.” Maria Moura.


    A genial escritora Rachel de Queiroz, com o romance épico, Memorial de Maria Moura, volta ao século XIX para abordar, mais uma vez, a questão feminina no Brasil, particularmente no Nordeste.
    Na primeira parte do livro, a saga ocorre no sertão, num solo coberto de caatingas. É uma história escrita com sangue. A protagonista obstinada, assassina o padastro que a assediava; para isso seduz um cabra, prometendo-lhe casamento, mandando assassiná-lo, como queima de arquivo. Como herdeiros das terras há três primos: Marinalva, sua amiga, que se casa com um circense, Irineu e Tonho, seus antagonistas, porque eles disputam o sítio do Limoeiro com ela. Frente à injustiça dos que queriam tomar sua terra, Maria Moura contrata capanga para a sua defesa. Incendeia a casa do Limoeiro e foge com um bando de homens; o gesto de incendiar o sítio expressa a idéia de rompimento com uma vida privada e doméstica da personagem, que parte para uma vida livre das amarras em que se encontrava, tal como as sinhazinhas de seu tempo que viviam à espera de um casamento, passando do domínio do pai ao marido.
    Naquela época, homens e mulheres desempenhavam papeis distintos. Ao homem, pleno poder; à mulher, o papel restrito de procriar. Á mulher, não era dado o direito do prazer, do erotismo. Maria Moura resolve contrariar os costumes da época. Repudia o modelo patriarcal e assume o papel de força e poder.
    Na segunda parte do livro, Maria Moura, com seu grupo, permanece no sertão e não admite ser governada por homem. Duarte, irmão bastardo de seus primos, torna-se seu amante, quando ela deseja o prazer sexual. Torna-se famosa pela bravura e pela coragem. Dissimulada, estrategista, ao convidar um homem para a cama, substituía a surrada veste masculina por macia e cheirosa camisola, depois de demorado banho. O poder é seu objetivo.
    Na terceira parte do livro ela chega à Lagoa do Socorro onde encontra um casal de escravos fugidos. Faz dali um reduto improvisado. Com o passar do tempo, Moura se torna uma mulher cada vez mais dura, sendo forte o suficiente para valer a sua vontade, apesar da sociedade machista em que vivia. Passa a viver num ambiente hostil e tem que se mostrar forte para dominar o fraco, matar para não morrer.
    Na quarta parte do livro, com o que arrecadou, o bando sai em busca de um lugar seguro para construir o império de Maria Moura. Na Serra dos Padres, ergue a Casa-Forte, uma mistura de casa, cadeia e banco, verdadeira fortaleza. É nesse lugar seguro que se concretiza o ápice de um poder soberano para a época e para a região. Nessa casa, Maria Moura dá guarida aos fora-da-lei, guarda seus tesouros, terras bastantes para o gado seleto e os cavalos de raça; grande fartura como jamais imaginara: coalhada, rapadura, mandioca, carne de sol, farinha de toda qualidade, além da jeribita. Na construção da Casa-Forte havia um compartimento mantido em segredo: o “cúbico”, que se destinava a esconder fugitivos caros, sob a sua tutela O ex-padre José-Maria, que recebeu o nome de Beato Romano, se junta ao bando, fugitivo por um crime que cometera, por matar o marido da sua amante, Isabel; o padre havia engravidado a mulher e ao descobrir a traição, o marido mata a esposa e o bebê de seis meses de gestação. O sacerdote, diante de tamanha crueldade, quebra-lhe um banco na cabeça, matando-o. Este adultério da mulher casada e o crime do padre tiveram tal repercussão, que a cabeça do sacerdote é colocada a prêmio e ele busca refúgio na Casa-Forte de Maria Moura. O adultério feminino no Nordeste era imperdoável, teria que ser lavado com sangue.
    Em seus momentos de divagação, Moura sentia a falta de um macho a quem ela chamasse de seu, mas não admite, em hipótese alguma, ser governada por um homem.
    Quando tudo parece correr bem, surge mais um homiziado na Casa-Forte: Cirino, um rapaz louro, bonito e atraente, conquistador, filho de um fazendeiro próximo, por quem Maria cai de amores: ”Ah, bons tempos. Antes que aquele Satanás de cabelo louro tivesse chegado pra me atentar.”.
    ‘Quando Moura percebe seus sentimentos, torna-se confusa, pois apesar de amá-lo loucamente, teria que matá-lo, segundo as leis do cangaço, pois ele entregara um fugitivo sob a sua tutela. Ela teria que lavar sua honra. ”Como acabar com Cirino sem acabar também comigo?”Mas Maria Moura dizia para si mesma: ”Você é a rainha desta terra aqui, tem Casa-Forte e senhoria, riqueza...“E você quer agora se acabar também por paixão pelo meninote de má fé?”Com o coração partido, manda executar o amor da sua vida. Cirino, antes de ser assassinado com uma facada certeira no coração, foi submetido à prisão por longos dias no “cubico” da Casa-Forte, onde se exercitavam sexualmente, com ódio e amor. “Foi um amor desesperado, furioso, que doía e machucava; amor de dois inimigos se mordendo e se ferindo, como se quisessem que aquilo acabasse em morte.” Muito abalada após a morte do seu amado, Moura parte com o seu bando para uma das mais sangrentas batalhas que já enfrentara, mesmo sendo alertada de que não deveria ir. Sabia que o destino seria a morte: ela já estava morta por dentro.
    A autora deixa em suspense o final do romance, mas tudo leva a crer que foi uma batalha suicida, contando com todos do bando, inclusive com o Beato Romano, que se ofereceu para confortar os possíveis moribundos. Antes de partir para esse último confronto, Maria Moura deixa o testamento de todos os seus bens para o afilhado Xandô, filho de sua prima, Marinalva.
    Quando Maria Moura se apaixona por Cirino, há uma oscilação entre o seu lado forte, o modelo masculino a que se propôs seguir, que deu certo, sendo vitoriosa nas batalhas. No entanto, no plano afetivo, Maria Moura chora e lamenta a morte do amado.
    Moura deixa às mulheres um testamento, rompendo com qualquer continuísmo de submissão destinado a elas. A protagonista imprimiu com bravura este memorial dedicado a todas aquelas que queiram ser senhoras de seus destinos.



    Dados Bibliográficos: QUEIROZ, Rachel de. Memorial de Maria Moura. Edição 15. Editora Jose Olympio, 2004.

  6. João Bosco Pereira Alves – Patrono: Vinícius de Moraes
    Especialista em Leitura e Produção de Texto pela PUC MG


    Agradeço aos servidores da Biblioteca Pública Municipal pelo apoio à minha pesquisa.
    Fui agraciado com o empréstimo do Livro Dôra, Doralina, edição, de 1975; ano em que o romance de Rachel de Queiroz foi publicado. Nesse momento ele se encontra lá, esperando uma mão ansiosa por desvendar-lhe os mistérios.
    O ambiente inicial do romance é a fazenda Soledade, onde a protagonista mora, localizada no município de Aroeiras – nome fictício - no interior do Ceará.
    O Livro de Senhora, o Livro da Companhia e o Livro do Comandante formam a tríade de Maria das Dores. A vida como um círculo. Dôra, assim preferia que a chamassem, sai de Soledade e vai para Fortaleza, de lá vai para o Rio de Janeiro e volta, por fim, à fazenda onde tudo começou.
    Dora era hospede de sua própria casa, em Soledade, a vida lhe marcava pela dor. Uma mãe dominadora, a perda precoce do pai, a indiferença dentro da própria casa vinda de quem mais deveria amá-la: sua mãe. Havia propensa rivalidade entre mãe e filha. Esta querendo talvez, a força da mãe e aquela, por sua vez, querendo a juventude da filha, que afinal de contas, seria a futura dona de tudo.
    Logo no inicio do livro se percebe grande amargura. A protagonista conta a própria história mostrando sua fragilidade e dependência – era a época de Senhora, uma mulher que dá uma volta em torno de si mesma. Uma personagem redonda, rica mas que mostra um lado de todos nós: o de voltar onde tudo começou num eterno ciclo. É tudo natural, como os insetos que partem, morrem e dão lugar a novos insetos, assim também é com gente porém um pouco mais complicado para as pessoas do que para os insetos mas tudo é uma simples questão de ponto de vista. Esse é o de Dôra.
    A mulher inicialmente frágil se liberta, mas a paixão lhe amarra. O Comandante de um navio é também o comandante de Dora, ainda que por escolha dela. Seria o amor?
    Um casamento por conveniência de três. Laurindo queria as terras da Senhora – mãe, a que mandava. Dôra era nova. Boa opção ter as duas. Senhora continuaria viúva – um bom título para a ocasião e que não lhe tirava a liberdade.
    Casar-se com Laurindo não foi uma alternativa sustentável para Dôra, um filho natimorto em um casamento por conveniência. Não era amor, era necessidade. Mas o amor não é uma necessidade?
    Uma Companhia de Teatro é a sua salvação. Seu porto, cheio de ondas, mas seguro. Decepcionada não há muito o que perder. Agora busca um amor, é atriz, sabe que é uma mulher com seus valores pessoais e desejos. Não abre mão de sua essência de mulher e do seu direito de aprender a vida, ainda que o passado esteja guardado em algum lugar doído do peito.
    Por que uma mulher larga a profissão a qual se entrega apaixonadamente? Por que teve coragem de largar o primeiro marido e não se submeter à sua irresponsabilidade e, agora, se entrega a um homem machista e de comportamento duvidoso e vai morar em um subúrbio do Rio de Janeiro? Porque a entrega consentida não é uma entrega é um apanhado. Porque quem por conveniência se cala, muito fala.
    Dôra não perde sua identidade, o que a vida lhe negou ela buscou de forma apaixonada e apaixonante num amor que lhe correspondia à altura.
    Na última parte do livro Dôra se vê sem o marido ao qual viveu momentos de entrega e paixão. Retoma suas raízes reconstruindo Soledade, mas agora ocupando a posição que outrora a mãe ocupava e que ambicionava sem se dar conta.
    A obra transita num tempo de decadência espacial. Uma sociedade patriarcal onde o dono da terra é o dono do poder, o dono da família, enfim o dono da mulher. Tanto Senhora, na primeira parte do livro, quanto Dôra, na última, acabam por copiar o modelo de domínio em questão.
    Dôra é uma personagem redonda, sofre mudanças profundas no decorrer da história, mas não termina plana onde tudo começou? Aquela já não seria ela desde o início?
    O espaço é redondo, transformado pela decadência rural em função da industrialização. Dôra, por conseguinte, é uma personagem encantadora, marcada pela dor e pelos gestos calculados. O livro deixa mais perguntas que respostas. A vida também não é assim?

    Bibliografia:
    QUEIROZ, Rachel de. Dôra, Doralina. 1ª. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975
    COQUEIRO, Wilma dos Santos. A Decadência Espacial no Romance “Dôra, Doralina”. Universidade Estadual de Londrina

  7. Maria Bernadete de A. Brito - Patrono: Gregório de Matos Guerra

    O Quinze de Rachel de Queiroz provocou enorme impacto nos anos trinta e atravessou o tempo como referência obrigatória na história da nossa literatura. Foi o marco em que a autora, nos seus vinte anos já se equiparava a escritores de peso como José Américo de Almeida, Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Jorge Amado.
    Foi a única mulher a fazer parte da geração de trinta, com o romance regional, de repercussão nacional e circulação universal. O Quinze foi o seu romance de estreia, publicado em Fortaleza, em 1930, e causou tremenda repercussão, pois se tratava de um livro escrito por uma mulher, produzindo agitação e até certa desconfiança nos espíritos da época.
    O título se refere à maior seca de 1915, vivida pela escritora em sua infância. Divide-se em dois planos que apresentam respectivamente, o vaqueiro Chico Bento e sua família e a relação afetiva de Vicente, rude proprietário e criador de gado com sua prima Conceição, culta e professora, leitora de vários livros de tendências feministas e socialistas, o que causa estranheza a sua avó, representante das velhas tradições, com quem ela passava férias, na fazenda da família, no Logradouro, perto do Quixadá. Com 22 anos, não pensava em casar, mas sempre se sentia atraída pelo primo Vicente, homem rude e até mesmo selvagem, dono de muitas reses.
    Com o advento da seca, a família de Dona Inácia decide ir para a cidade. Conceição trabalha agora no campo de concentração onde ficavam alojados os retirantes e percebe a diferença de vida entre ela e seu primo e a quase impossibilidade de comunicação. A seca chega ao fim e eles voltam para o Logradouro.
    A parte mais importante do livro apresenta a marcha trágica do vaqueiro Chico Bento com a mulher e cinco filhos. É forçado a abandonar a fazenda onde trabalhava, com o intuito de sobreviver no Norte, extraindo borracha. No percurso, Josias, o filho mais novo, morre envenenado por mandioca crua e fica enterrado ali mesmo, na estrada, o que causa profunda dor à família. Outra cena trágica é o abate de uma cabra cujo dono aparece chamando Chico Bento de ladrão. Toma-lhe o animal, dando-lhe apenas as tripas para saciar a fome. Mais adiante Chico Bento dá falta do filho mais velho, Pedro, mas chegando ao Aracape, toma conhecimento da fuga do garoto com comboieiros de cachaça. Ao chegarem ao campo de concentração, são reconhecidos por Conceição, que emprega Chico Bento, adotando um de seus filhos, e lhe concede as passagens de trem para S. Paulo.
    A obra é vista agora de uma perspectiva que harmoniza o social e o psicológico sem perder o foco de entrada para temas políticos da maior importância na época, entre eles o da afirmação social da mulher no caso, Conceição, naquele contexto difícil e adverso. Sob este aspecto a protagonista em última instância investiga e interroga o seu destino, e a verdade é que, visto a partir dele, o drama social dos flagelados parece diluir-se no pano de fundo da paisagem calcinada que a linguagem da escritora recupera sob um ângulo lírico e alusivo, e até mesmo corrosivo.
    O Quinze é um romance orgânico, apresenta características modernistas e neo-realistas, uma vez que se enquadra nas normas vigentes da geração de 30 a 45, cuja atenção se volta para o Nordeste. É ficção em prosa regionalista, obra de caráter social, apresentando a saga dos flagelados cearenses representantes da desastrosa seca de 1915. Os personagens que compõem o cenário são: Chico Bento e sua família, Conceição, Vicente, Mãe Nácia, os quais respondem pela sociedade do Logradouro e do Quixadá, interior do Ceará, com suas crenças, costumes e tradições.
    O caráter telúrico deste livro explora as tradições do Ceará como as cantigas próprias do vaqueiro na condução do gado, as rezas da benzedeiras e outros aspectos folclóricos.
    A temática regionalista evidencia a seca cearense, tão vil e voraz, esterilizando o homem e a terra, regidos pelos fenômenos meteorológicos, tornando-os impotentes, numa terra desolada e árida, como: “as árvores apresentam-se negras e agressivas, tudo isso dentro de um silêncio fino do ar que é sempre o mesmo, além da morna correnteza que levanta e passa silenciosa como um sopro de morte na região tão seca [...]” (p.65-66).
    É este livro uma obra de denúncia social, fato comprovado por vários episódios e pela descrição do espaço. O caso das passagens concedidas aos retirantes pelo governo confirma o caráter realista da obra. Eles deixam o Ceará e saem em busca de oportunidades em outras regiões em desenvolvimento, no caso, São Paulo e o Amazonas. Chico Bento se revolta com a atitude do governo, fingindo ajudar os pobres, o que não era verdade porque não os ajudava “nem a morrer...” (p.33). É o fato que motivava os retirantes a saírem do Logradouro ou do Quixadá até a capital Fortaleza, em busca de sobrevivência.
    A grande personagem merecedora de atenção neste romance é a Seca, a verdadeira protagonista, responsável pela peripécia de O Quinze. Basta observar a cena descrita no episódio da novilha acometida de mal dos chifres e aproveitada como alimento pelos retirantes: “a faca escorrendo sangue, as mãos tintas de vermelho, um fartum sangrento envolvendo-o todo...”(p.42-43) Nesta passagem Rachel de Queiroz apresenta os retirantes animalizados, disputando, em condição de igualdade, a carniça com os urubus para saciar a maior de todas as misérias provocadas por ela, a fome. Surge então a figura de Chico Bento com impressionante generosidade ao dividir os alimentos que ainda lhe restavam, salvando os conterrâneos de comerem um animal já em estado de putrefação. Atitude típica do sertanejo nordestino, que mesmo diante do flagelo acode o próximo, num gesto sublime.
    Cordulina, antes gorda e agora tão magra! Diante dos olhos do marido, esquelética, sem forças, tísica! As crianças que antes brigavam, corriam, agora, mal respiram lentamente. Mas o interessante é que, mesmo diante da miséria que os consome, Chico ainda demonstra atitude de compaixão, heroísmo e responsabilidade com a família.
    A segunda parte do livro enfatiza o romance de Vicente com Conceição. A autora recorre a metáforas e personificações ao tecer comparações de Vicente com elementos da natureza. É descrito como uma bela paisagem, exibindo beleza e cor, mas sem poder compartilhar profundidades literárias ou filosóficas com a prima enamorada. Acredita que a diferença cultural entre os dois é forte o bastante, capaz de destruir o sentimento que sentem um pelo outro. A autora, de forma implícita, mostra o preconceito da sociedade urbana em relação à cultura do homem rural, por meio do julgamento etnocêntrico de Conceição em condenar a sua felicidade porque o seu nível cultural é “superior” ao do rapaz campesino, apesar de ser bom, rico, viril, comprometido com os seus, e “inferior”, não economicamente, mas desprovido do conhecimento teórico, científico e literário. Isto Vicente não possuía, o que para a normalista neutralizava todas as demais virtudes do pretendente. Assim a moça idealiza o seu relacionamento com o primo no plano da sensibilidade e do imaginário, sem carícias nem beijos, e tal romance inicia-se e finaliza por uma impressão. Conceição admite a condição submissa da mulher. Supõe-se que a autora chame a atenção para qual seria o papel da mulher diante desta nova sociedade brasileira. Propositadamente coloca Conceição e Vicente em igual condição por não abrir mão da terra e Conceição por privilegiar a sua liberdade. Deduz-se então que ela foi criada pela autora com o propósito de quebrar paradigmas até então possíveis só ao homem. Órfã, criada pela avó e estudada na capital; trabalha, adota filho do retirante, dispensa companhia ao andar pela cidade, enfrenta as mazelas do campo de concentração em nome da solidariedade, e, ao invés de sofrer preconceito, julga e descarta Vicente por não ser compatível com seu nível intelectual.
    Quanto ao estilo, a autora se vale da linguagem impessoal, introspectiva, livre de adornos lingüísticos exagerados, seca como o espaço geográfico e próximo da linguagem oral do Ceará. Utiliza-se de períodos curtos, do ponto de interrogação, facilitando a reflexão do leitor. O diálogo é reticenciado para melhor percepção do não dito pela escritora. Utiliza o recurso da pontuação, marcando a continuidade e delimitando a fala dos interlocutores com o travessão e exclamações. As aliterações e assonâncias são bastante expressivas, registrando os elementos fonéticos, simbólicos, morfossintáticos, regionalistas e lexicais que identificam a variedade linguística regional.
    Rachel não abre mão do veio fecundo da matéria oral folclórica brasileira na ficção. É a oralidade que fornece tecido ao texto, numa prosa viva, comovente, tecendo o seu relato em duas linhas de força: a marcha do retirante e sua família, sonhando chegar ao Amazonas e a história da mocinha que lê romances e teóricos franceses, além de sonhar com um belo moço rude.
    Nesse cenário inclemente e num quadro social deplorável, que iguala homens e bichos, sobreviver até a redenção da chuva é uma questão de sorte. Em síntese, a temática deste romance tem caráter documental e sociológico e abrange os problemas condicionados pela seca de forma global, os quais são e continuam atuais, possibilitando várias análises.

    Dados Bibliográficos: QUEIROZ, Rachel de. O Quinze. 86. Ed. José Olympio, 2009.

  8. Maria Cinira Santos Netto – Patrono: Euclides da Cunha



    “Os que têm razão para chorar diante de seus sofrimentos são os que não choram nunca!”

    O Ceará é conhecido indefinidamente pelo brilho do sol que ilumina vales, praias, serras e caatingas. Banhando com seu brilho o nordeste. O ar envolve-se de sons, a jandaia espalha seu canto e sua alegria na saudação ao astro rei que surge no horizonte do sertão.
    Os primeiros habitantes cearenses foram os índios Jês e Tupis avistados por navegadores espanhóis antes de Pedro Álvares Cabral aportar no mar da Bahia.A fusão dos índios com libaneses, sírios e mais tarde franceses formou a maioria da população cearense.
    No inicio do século XIX a província passou por vários movimentos rebeldes de cunho republicano, dentre eles, o que deu origem à Republica do Crato, liderados pela família dos “Alencar”, berço do escritor José Martiniano de Alencar.
    O Ceará sempre esteve na vanguarda dos acontecimentos nacionais. Antes da assinatura da Lei Áurea em 1889, já havia abolido a escravidão, no final desse século. Viveu num distrito do Crato um religioso com fama de milagreiro, que teve sua ordenação suspensa por agir em discordância com os princípios teológicos da Igreja Católica. Era muito amado pelos nordestinos e alguns lhe atribuem milagres, não comprovados pela Igreja . Evidenciava grande habilidade com cangaceiros e coronéis, evitando conflitos sangrentos tornando-se por isso, um líder político.
    No dia 17 de novembro de 1910, nasceu em Fortaleza Maria Rachel de Moura Queiroz. Filha de Clotilde Franklin e Dr. Daniel Queiroz, magistrado e fazendeiro, originário de Quixadá, cidade localizada na região das caatingas, amada pela pequena Rachel como se fosse o seu berço natal. Era herdeira pelo lado materno da família Alencar, de convicções republicanas. Sua origem pelo lado paterno provém da família Queiroz, clã também de convicções republicanas.
    Em 1915, a família de Rachel, embarcou para o Rio de Janeiro, fugindo de grande seca logo depois, transferiu-se para Belém do Pará, onde viveram por dois anos, retornando novamente à terra natal, lá nos sertões de Quixadá.
    Nessa época, Dr. Daniel deixa a magistratura e se dedica à sua propriedade rural: Fazenda do Junco, rebatizada por Rachel por “Fazenda não me deixes”. Era lá, em um bosque, dentro da propriedade, que Rachel buscava inspiração para seus folguedos e seus futuros relatos.
    Alfabetizada pelos pais, só com onze anos de idade conheceu a escola. Escola religiosa e particular, educação rígida, voltada para as letras e as artes, fato que lhe deu subsídio para denúncias sociais em seus romances. Relatava o que via e vivia, colocando no papel todo sentimento de sua alma sertaneja.
    No Rio, Rachel não se sentia feliz vivendo num apartamento, ressentia-se da ausência do sol de Quixadá que iluminava algum ponto do Nordeste.
    Aos vinte anos, com sérios problemas de saúde, suspeita de tuberculose foi obrigada a um repouso solitário e para se livrar de crises depressivas nas modorrentas tardes vazias da fazenda, começou a redigir seu primeiro livro “O Quinze” no qual relata o sofrimento e a vida dos que vivem no sertão assolado pela seca. Essa vivência que presenciou ainda menina fê-la acreditar mais tarde, que os que têm razão para chorar diante de seu sofrimento, são os que não choram nunca.
    Para publicar seu primeiro livro, contou com a ajuda financeira do pai. A obra foi lançada e alcançou grande sucesso nos meios intelectuais do Ceará. Surpresa, com a aceitação da obra, envia um dos exemplares para apreciação dos escritores: Augusto Frederico Schimth e Mário de Andrade que ficam encantados com a narrativa da jovem.Elogiada pelo feito torna-se, uma personalidade literária.
    Nascia assim uma escritora regionalista da segunda fase do Modernismo Brasileiro de estilo sóbrio, simples e elegante; como os outros escritores nordestinos dessa época seus romances são documentários denunciantes da situação social do meio em que viviam os nordestinos assolados,pela seca e nos romances e crônicas urbanas a marginalização dos que viviam na miséria.
    Aos vinte e um anos, recebeu no Rio de Janeiro, o premio da Fundação Graça Aranha. É por esse tempo, que se torna uma militante do Partido comunista, introduzindo-o no Ceará. Fichada pela polícia política como agitadora, passou a ser vigiada. Conclui seu segundo romance, João Miguel, no qual faz denúncias sociais e para sua surpresa, toma conhecimento de que o livro só será publicado após sofrer censura dos intelectuais comunistas. Irritada, rompe com o partido sem, entretanto, perder suas convicções socialistas.
    Em 1932, contrai núpcias com José Auto da Cruz Oliveira, união que durou pouco tempo. Após separar-se, Rachel muda-se para São Paulo, período em que os governantes suprimiram a liberdade de expressão e o povo brasileiro vivia inseguro e infeliz, asfixiada, porque havia perdido a noção de ser livre..
    Em Salvador, seus livros são queimados em praça pública pela polícia política, por serem considerados subversivos.
    Por esse tempo, aconteceu sua separação e Rachel passou a viver maritalmente com o médico Oyama de Macedo. Torna-se duplamente discriminada: pela separação do marido e pela vida de amásia que vive ao lado de Oyama, situação inaceitável pela sociedade puritana e repressiva da época.
    Lidou com a discriminação, enfrentou sua tristeza e saiu do episódio mais madura, continuando seu trabalho de esculpir idéias e desenhar pensamentos. Por ser somente uma normalista, provou que a genialidade não vem somente da carga genética nem é produzida só pela cultura acadêmica, mas é construída através da experiência em meio às dificuldades e aos desafios da vida.
    Durante o período em que viveu, embora discriminada, escreveu duas obras consideradas excelentes pela crítica: “Três Marias” e “Caminho das Pedras.” Logo depois, escreveu uma peça teatral “Lampião” encenado no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Em 1957 recebeu da Academia Brasileira de Letras o prêmio Machado de Assis. Dois anos depois, voltou a escrever uma nova peça para o teatro:” Maria do Egito.”
    Em 1960, quando o homem da vassoura, Jânio Quadros tornou-se presidente do Brasil, convidou-a para o cargo de Ministra da Educação. Recusou, porque apesar de ser escritora e falar com fluência dois idiomas, tinha pouco conhecimento pedagógico para lidar com a pasta da educação. Atitude inédita e louvável.
    Em 1969 estreou na literatura infanto-juvenil com o livro: “O menino mágico”. Logo após, editou Dôra, Doralina. Rachel sempre esteve à frente de seu tempo como seus antepassados. O tempo sempre comandou seu destino; o seu mundo caminha à frente de seu tempo. Assim foi a primeira mulher a vestir o fardão da ABL. Seus livros foram publicados em várias partes do mundo. A mocinha que um dia deixou o Ceará, afastando-se da seca devastadora, com sua pena venceu a discriminação social e conquistou o mundo.
    Em 1992, seu livro, “Memorial de Maria Moura” é editado e se transformou em mini-série da TV Globo.
    Em 1995 publicou seu livro de memórias “Tantos anos”.
    Rachel tinha alma sertaneja e era apegada à terra de onde podia apreciar o céu, o sol e as estrelas. Considerava-se uma pessoa telúrica. Era comandante de sua alma e senhora do seu destino. Por ser antirreligiosa, em algumas ocasiões sentia-se triste; tristeza que nascia da falta do ombro amigo de Deus, nas horas de solidão e amargura. Acreditava-se uma pessoa infeliz por não ter crença religiosa, a primeira das virtudes teológicas.
    Em quatro de novembro de 2003 veio a falecer. Nesse dia, viu o nascente pela última vez e nele, um sol magnífico, iluminando o caminho que seria percorrido por ela, em busca de uma estrela brilhante, que a guiaria em direção à felicidade eterna. O astro-rei exilou-se do Ceará deixando ir com Rachel parte de seu brilho.


    Bibliografia:
    TUFANO, Douglas. Estudo da Língua e Literatura.
    RODRIGUES, A. Nedina, CASTRO, Dácio A., TEIXEIRA, Ivan P. Antologia da Literatura Brasileira – Vol. II.
    COELHO, Nely Novaes. O ensino da Literatura.
    FERREIRA, Delson Gonçalves. Literatura. Pág. 353.
    CAMINHA, Edmilson. Rachel de Queiroz: a Senhora do Não me Deixes. Academia Brasileira de Letras. Rio de Janeiro. 2010.

  9. Notícias Acadêmicas

    quarta-feira, 17 de agosto de 2011

    Ao recebermos a condução da AVL, vislumbrávamos que durante a nossa gestão não vivenciaríamos apenas sonhos. Precisávamos caminhar, lutar contra moinhos de vento. Se algo nos parece digno de ser divulgado é com prazer que o fazemos. Por isso, queríamos que os valadarenses conhecessem uma Academia de Letras, divulgadora da cultura local e de escritores da cidade e região. Desejávamos que a comunidade viesse ate nós e nos valorizasse, acreditando que consciência se constrói com educação e cultura. O nosso objetivo tem sido alcançado. Recebemos professores e alunos de escolas da cidade, agendamos visitas de escolas da zona rural, membros de várias associações em nossa instituição. Aqueles que, por circunstancias, não podem estar conosco, como o caso dos que estão no presídio, vamos ate eles, levando o balsamo da leitura e da solidariedade para aquelas almas atormentadas e solitárias.
    Isto é uma Academia de Letras, voltada para o saber e também para o servir!

  10. Edital publicado em 10 de julho de 2011 pelo Diário do Rio Doce, encerrado em 10 de agosto de 2011 declarando a vacância de cinco cadeiras: (3)-Rui Barbosa, (6)-Carlos Drummond de Andrade, (27) Rachel de Queiroz, (31) Machado de Assis e (40) Jorge Amado.
    A A.V.L. agradece a participação dos inscritos e após análise das obras, o resultado será conhecido em setembro com posse em outubro.

  11. A Revista Suindara retorna à comunidade valadarense com novas idéias, muito vigor e compromisso em divulgar a cultura e a literatura na cidade.
    A nossos leitores, estamos oferecendo produções literárias dos vários acadêmicos que compõem os quadros da AVL e também, de pessoas que fazem parte de nossa sociedade, ligadas à educação e à cultura.

  12. * Merece destaque o trabalho realizado pela funcionária da Biblioteca Pública Municipal, Judith de Meira, qualificada em biblioteconomia, cedida pela Secretaria Municipal de Cultura Esporte e Lazer que está organizando nosso acervo que em breve estará a disposição da comunidade.


    * Livros coletados pelos acadêmicos e pela professora Nilma Mourão foram distribuídos aos detentos da Penitenciária Francisco Floriano de Paula (Paca). Na mesma instituição, a acadêmica Maria Cinira falou sobre a importância da leitura para enriquecimento pessoal.


    * Acadêmicos estiveram presentes em instituições educacionais ministrando palestras:
    Jairo Guedes, Mário Ferreira, Mª Cinira – “Importância do livro no mundo moderno”
    Antor Santana – Educação de Jovens e Adultos.







  13. Foi entregue ao Sr. Secretário de Planejamento Municipal, Jaider Batista, o projeto "Museu de Território" - elaborado pela Presidente da AVL, Maria Cinira dos Santos Netto.

    OBJETIVO GERAL:
    Atingir os ideais da AVL divulgando a cultura no município

    OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
    Criar uma referência cultural na cidade;
    Valorizar o escritor valadarense;
    Agregar pessoas da comunidade à AVL;
    Divulgar a cidade através de textos literários;
    Despertar na população interesse pela cultura literária;
    Divulgar a cultura local para turistas.

    METAS
    Que a AVL seja referência cultural na cidade e região.

    AÇÕES
    Valorizar os locais que serão utilizados como ponto histórico, social e turístico;
    Adquirir chapas de ferro galvanizado ou inox, tamanho 1.60m x 1m;
    Gravar nas chapas, textos literários;
    Distribuir as chapas gravadas em locais pré determinados, de acordo com o texto gravado (Prefeitura, Palácio da Cultura, Bancos, Correios, Praças, Igrejas, Hospitais, Escolas centrais) criando os quarteirões da cultura;
    Nas chapas, só serão divulgados textos aprovados por uma comissão da AVL;
    Elaborar ementa no Regimento da AVL, criando a comissão para avaliação dos textos a serem gravados;
    Buscar patrocínio para dar início ao projeto;
    Ofícios à sociedade civil, pedindo apoio para desenvolver nosso projeto.

    JUSTIFICATIVA
    A sociedade expressa suas necessidades e sonhos através da Literatura, que sabe interpretar os sentimentos do mundo. Caminha através dos ventos que levam sonhos e trazem ideais; cresce buscando o direito de conhecer sua história em textos, poesias e trovas.
    Através da Literatura assistimos à vida mover-se, sacudindo tradições, costumes e a inércia dos povos. Este chamamento começa nas casas e transborda para as praças, motivadas pelos ideais democráticos de uma
    cidade, que deseja valorizar seus escritores e cidadãos, que muito fizeram por ela e deixaram seus feitos registrados em prosa, verso e, no seu pulsar amoroso.
    Com este projeto estaremos mostrando à sociedade civil que a AVL está a serviço do cidadão e da comunidade, reconhecendo o valor das obras literárias dos cidadãos valadarenses e a importância delas para transformar a sociedade.

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