João Bosco Pereira Alves – Patrono: Vinícius de Moraes
Especialista em Leitura e Produção de Texto pela PUC MG
Agradeço aos servidores da Biblioteca Pública Municipal pelo apoio à minha pesquisa.
Fui agraciado com o empréstimo do Livro Dôra, Doralina, edição, de 1975; ano em que o romance de Rachel de Queiroz foi publicado. Nesse momento ele se encontra lá, esperando uma mão ansiosa por desvendar-lhe os mistérios.
O ambiente inicial do romance é a fazenda Soledade, onde a protagonista mora, localizada no município de Aroeiras – nome fictício - no interior do Ceará.
O Livro de Senhora, o Livro da Companhia e o Livro do Comandante formam a tríade de Maria das Dores. A vida como um círculo. Dôra, assim preferia que a chamassem, sai de Soledade e vai para Fortaleza, de lá vai para o Rio de Janeiro e volta, por fim, à fazenda onde tudo começou.
Dora era hospede de sua própria casa, em Soledade, a vida lhe marcava pela dor. Uma mãe dominadora, a perda precoce do pai, a indiferença dentro da própria casa vinda de quem mais deveria amá-la: sua mãe. Havia propensa rivalidade entre mãe e filha. Esta querendo talvez, a força da mãe e aquela, por sua vez, querendo a juventude da filha, que afinal de contas, seria a futura dona de tudo.
Logo no inicio do livro se percebe grande amargura. A protagonista conta a própria história mostrando sua fragilidade e dependência – era a época de Senhora, uma mulher que dá uma volta em torno de si mesma. Uma personagem redonda, rica mas que mostra um lado de todos nós: o de voltar onde tudo começou num eterno ciclo. É tudo natural, como os insetos que partem, morrem e dão lugar a novos insetos, assim também é com gente porém um pouco mais complicado para as pessoas do que para os insetos mas tudo é uma simples questão de ponto de vista. Esse é o de Dôra.
A mulher inicialmente frágil se liberta, mas a paixão lhe amarra. O Comandante de um navio é também o comandante de Dora, ainda que por escolha dela. Seria o amor?
Um casamento por conveniência de três. Laurindo queria as terras da Senhora – mãe, a que mandava. Dôra era nova. Boa opção ter as duas. Senhora continuaria viúva – um bom título para a ocasião e que não lhe tirava a liberdade.
Casar-se com Laurindo não foi uma alternativa sustentável para Dôra, um filho natimorto em um casamento por conveniência. Não era amor, era necessidade. Mas o amor não é uma necessidade?
Uma Companhia de Teatro é a sua salvação. Seu porto, cheio de ondas, mas seguro. Decepcionada não há muito o que perder. Agora busca um amor, é atriz, sabe que é uma mulher com seus valores pessoais e desejos. Não abre mão de sua essência de mulher e do seu direito de aprender a vida, ainda que o passado esteja guardado em algum lugar doído do peito.
Por que uma mulher larga a profissão a qual se entrega apaixonadamente? Por que teve coragem de largar o primeiro marido e não se submeter à sua irresponsabilidade e, agora, se entrega a um homem machista e de comportamento duvidoso e vai morar em um subúrbio do Rio de Janeiro? Porque a entrega consentida não é uma entrega é um apanhado. Porque quem por conveniência se cala, muito fala.
Dôra não perde sua identidade, o que a vida lhe negou ela buscou de forma apaixonada e apaixonante num amor que lhe correspondia à altura.
Na última parte do livro Dôra se vê sem o marido ao qual viveu momentos de entrega e paixão. Retoma suas raízes reconstruindo Soledade, mas agora ocupando a posição que outrora a mãe ocupava e que ambicionava sem se dar conta.
A obra transita num tempo de decadência espacial. Uma sociedade patriarcal onde o dono da terra é o dono do poder, o dono da família, enfim o dono da mulher. Tanto Senhora, na primeira parte do livro, quanto Dôra, na última, acabam por copiar o modelo de domínio em questão.
Dôra é uma personagem redonda, sofre mudanças profundas no decorrer da história, mas não termina plana onde tudo começou? Aquela já não seria ela desde o início?
O espaço é redondo, transformado pela decadência rural em função da industrialização. Dôra, por conseguinte, é uma personagem encantadora, marcada pela dor e pelos gestos calculados. O livro deixa mais perguntas que respostas. A vida também não é assim?
Bibliografia:
QUEIROZ, Rachel de. Dôra, Doralina. 1ª. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975
COQUEIRO, Wilma dos Santos. A Decadência Espacial no Romance “Dôra, Doralina”. Universidade Estadual de Londrina
Especialista em Leitura e Produção de Texto pela PUC MG
Agradeço aos servidores da Biblioteca Pública Municipal pelo apoio à minha pesquisa.
Fui agraciado com o empréstimo do Livro Dôra, Doralina, edição, de 1975; ano em que o romance de Rachel de Queiroz foi publicado. Nesse momento ele se encontra lá, esperando uma mão ansiosa por desvendar-lhe os mistérios.
O ambiente inicial do romance é a fazenda Soledade, onde a protagonista mora, localizada no município de Aroeiras – nome fictício - no interior do Ceará.
O Livro de Senhora, o Livro da Companhia e o Livro do Comandante formam a tríade de Maria das Dores. A vida como um círculo. Dôra, assim preferia que a chamassem, sai de Soledade e vai para Fortaleza, de lá vai para o Rio de Janeiro e volta, por fim, à fazenda onde tudo começou.
Dora era hospede de sua própria casa, em Soledade, a vida lhe marcava pela dor. Uma mãe dominadora, a perda precoce do pai, a indiferença dentro da própria casa vinda de quem mais deveria amá-la: sua mãe. Havia propensa rivalidade entre mãe e filha. Esta querendo talvez, a força da mãe e aquela, por sua vez, querendo a juventude da filha, que afinal de contas, seria a futura dona de tudo.
Logo no inicio do livro se percebe grande amargura. A protagonista conta a própria história mostrando sua fragilidade e dependência – era a época de Senhora, uma mulher que dá uma volta em torno de si mesma. Uma personagem redonda, rica mas que mostra um lado de todos nós: o de voltar onde tudo começou num eterno ciclo. É tudo natural, como os insetos que partem, morrem e dão lugar a novos insetos, assim também é com gente porém um pouco mais complicado para as pessoas do que para os insetos mas tudo é uma simples questão de ponto de vista. Esse é o de Dôra.
A mulher inicialmente frágil se liberta, mas a paixão lhe amarra. O Comandante de um navio é também o comandante de Dora, ainda que por escolha dela. Seria o amor?
Um casamento por conveniência de três. Laurindo queria as terras da Senhora – mãe, a que mandava. Dôra era nova. Boa opção ter as duas. Senhora continuaria viúva – um bom título para a ocasião e que não lhe tirava a liberdade.
Casar-se com Laurindo não foi uma alternativa sustentável para Dôra, um filho natimorto em um casamento por conveniência. Não era amor, era necessidade. Mas o amor não é uma necessidade?
Uma Companhia de Teatro é a sua salvação. Seu porto, cheio de ondas, mas seguro. Decepcionada não há muito o que perder. Agora busca um amor, é atriz, sabe que é uma mulher com seus valores pessoais e desejos. Não abre mão de sua essência de mulher e do seu direito de aprender a vida, ainda que o passado esteja guardado em algum lugar doído do peito.
Por que uma mulher larga a profissão a qual se entrega apaixonadamente? Por que teve coragem de largar o primeiro marido e não se submeter à sua irresponsabilidade e, agora, se entrega a um homem machista e de comportamento duvidoso e vai morar em um subúrbio do Rio de Janeiro? Porque a entrega consentida não é uma entrega é um apanhado. Porque quem por conveniência se cala, muito fala.
Dôra não perde sua identidade, o que a vida lhe negou ela buscou de forma apaixonada e apaixonante num amor que lhe correspondia à altura.
Na última parte do livro Dôra se vê sem o marido ao qual viveu momentos de entrega e paixão. Retoma suas raízes reconstruindo Soledade, mas agora ocupando a posição que outrora a mãe ocupava e que ambicionava sem se dar conta.
A obra transita num tempo de decadência espacial. Uma sociedade patriarcal onde o dono da terra é o dono do poder, o dono da família, enfim o dono da mulher. Tanto Senhora, na primeira parte do livro, quanto Dôra, na última, acabam por copiar o modelo de domínio em questão.
Dôra é uma personagem redonda, sofre mudanças profundas no decorrer da história, mas não termina plana onde tudo começou? Aquela já não seria ela desde o início?
O espaço é redondo, transformado pela decadência rural em função da industrialização. Dôra, por conseguinte, é uma personagem encantadora, marcada pela dor e pelos gestos calculados. O livro deixa mais perguntas que respostas. A vida também não é assim?
Bibliografia:
QUEIROZ, Rachel de. Dôra, Doralina. 1ª. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975
COQUEIRO, Wilma dos Santos. A Decadência Espacial no Romance “Dôra, Doralina”. Universidade Estadual de Londrina
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