Maria Cinira dos Santos Netto
Patrono: Euclides da Cunha
À noite, quando o sino badalava
para o recolhimento no dormitório, organizávamos nossas saias de tropical
inglês sob o lençol e, enquanto as organizávamos, íamos rezando, pedindo a Deus
proteção para nossa alma, se por acaso naquela noite fôssemos chamadas.
Depois as orações continuavam,
agora em latim; não sabíamos o que estávamos rezando, mas rezávamos...
Assim iniciamos a construção de
nossa história pessoal, tempo que deixou profundas marcas em nossas vidas,
período que nos ajudou a caminhar nos dias atuais, mesmo quando a vida nos
oferece dores e tempestades.
Uma menina-moça de nome Niza
Diniz, era nossa colega de internato no Colégio Santa Clara, da cidade de
Itambacuri. Sua família era oriunda do Naque, naquela época, um distrito de
Valadares.
Niza alimentava a vida com a
alegria e a avidez de quem cultiva a eternidade; em qualquer grupo de alunas em
que estivesse presente, ali estava a felicidade e a esperança. Abominava a
tristeza e desde a adolescência era solidária e respeitosa com seus amigos e
com ela própria, todos sedentos por dignidade. Amava a qualidade das pessoas,
desconhecia o rancor, a inveja e a maldade. Era uma amiga constante, sempre
movida pela sensibilidade, aquela que amparava os amigos em silêncio.
Ao deixar a adolescência,
sentia-se feliz como esposa e como mãe, tinha prazer em ser presença na vida de
seus netos. Mulher vaidosa, inteligente, culta, discreta e orgulhosa de sua
independência intelectual. Fazia questão de socializar seus conhecimentos literários
com as pessoas que deles necessitavam. Era uma relatora de sonhos, uma
pescadora de horizontes.
Hoje os sinos choram de saudades,
dobram de dor pela sua partida, mas o seu espírito continua vivo entre nós. Não
podemos vê-la, não podemos ouvi-la, mas sentimos o calor de sua alma aquecendo
nossos corações e nos dando força para prosseguir, reencontrando pedaços de
nossas vidas que se perderam no tempo e no caminho.
Nossos pensamentos e nossa imaginação
são suficientes para estarem em várias vidas, encantando nossa alma e transbordando
de lembranças. Em noites de lua cheia, fixaremos nossos olhos no firmamento e
veremos estrelas piscando e nos enviando boas novas; com certeza, nesse céu
estrelado e de lua cheia, estará Niza, espalhando alegria e buscando devaneios.
Tinha paixão pelo cônsul Aluízio
de Azevedo, amava seu estilo, composições oriundas da escola Naturalista,
patrono da Cadeira 19 que hoje a imortaliza. Em seus textos literários e em
suas belas poesias, colocava sua religiosidade, suas emoções, e seus
encantamentos. Era na beleza da literatura que se revelava e deixava partes de
sua alma voar em busca do infinito.
Desejava ver o nome de seus
confrades atravessar fronteiras, ganhar o mundo. Era a companheira que com
palavras remendava a nossa alma e levantava nosso ânimo.
Neste momento, quando as
lembranças invadem nossas vidas, o sussurrar da brisa soa como sua voz, e entre
murmúrios pediremos ao vento que conduza seu espírito aos céus, em uma viagem
de devaneio e encantamento.
Adeus Niza! Que o vento e a brisa
a aconcheguem e a conduzam para o altar do Pai!
Os exemplos motivam as palavras arrastam. Professora Niza nos acolhia a todos com elegância e simpatia. Que Deus a tenha em boníssimo lugar.